quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desprender-se


Era para ser só mais um dia igual a todos os outros, quente, quieto, comum. Se não fosse o incômodo que se encontrava dentro dela. Sentia a necessidade urgente de pegar aquelas velhas caixas, empoeiradas e que estavam há tanto tempo guardadas. Experimentava uma dor no peito só de pensar em tirar alguma coisa de dentro delas. Será que iria conseguir? Será que não era bem mais fácil deixar tudo do jeito que estava? Já era tão acostumada com aquilo, conhecia o lugar que cada coisa ocupava, era mais fácil mantê-las lá, era cômodo. Decidiu que não. Faria uma faxina. Tomou coragem. Nada de apego. Não se prenderia mais aquelas coisas. Foi abrindo lentamente cada caixa, tirando uma coisa de cada vez, sentimentos, fotos amareladas, momentos, o instante sem abraço, o dia em que se sentiu pequena. Tirou tudo. Desocupou lugares. E respirou fundo antes de jogar fora. Não faria falta. Os próximos dias se encarregariam de preencher os espaços vazios.
Sentiu-se leve.
[Léia Mara]

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